O senador maranhense João Alberto (PMDB) não viu nada demais nas acusações contra o presidente Michel Temer reveladas durante uma conversa do mandatário do país com o empresário Joesley Batista, dono do grupo frigorífico JBS. Em declaração nesta sexta-feira (19) ao Jornal Nacional, da Rede Globo, Alberto confia na inocência de Temer.
“Quem conhece o Temer de perto, sabe que ele além de ser um jurista muito competente, é um cidadão muito delicado. O Temer procura sempre tratar bem as pessoas, o que eu vi ali é o Temer não querer tratar mal a ninguém. Pelo que eu vi pelos áudios, eu não vejo nada contra o Presidente da República, mas eu acredito que não pese nada contra ele“, afirmou João Alberto.
João Alberto é aliado de José Sarney, que foi responsável por aconselhar Temer a continuar no cargo. Assim como Sarney, o senador até outro dia defendia o governo corrupto da presidente Dilma Rousseff. Agora, com Michel Temer, não está sendo diferente, tendo em vista os interesses pessoais e políticos do grupo Sarney.
Acusações contra Michel Temer.
O presidente Michel Temer é alvo de um inquérito instaurado nesta semana no Supremo Tribunal Federal para apurar as suspeitas dos crimes de corrupção passiva, obstrução de justiça e organização criminosa. O peemedebista foi gravado pelo empresário Joesley Batista, dono do grupo frigorífico JBS, anuindo com a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso em Curitiba e visto como potencial delator. “Tem que manter isso aí, viu?”, disse Temer. O presidente também foi flagrado consentindo com a revelação de que Joesley estaria cooptando um procurador da República e “segurando” dois juízes responsáveis pelos seus processos. “Ótimo, ótimo”, afirmou durante uma conversa realizada em março passado na calada da noite no Palácio do Jaburu, em Brasília. Há ainda outras acusações que pesam sobre Temer:
Pedido de propina em bilhete.
De acordo com o relato de um ex-diretor da JBS, Ricardo Saud, em meio às eleições de 2014 o presidente entregou um bilhete com um endereço onde deveriam ser entregues 1 milhão de reais em dinheiro vivo na empresa de um amigo do peemedebista, o coronel aposentado João Baptista Lima. “O dinheiro era do PT. O PT deu para o presidente Temer para usar para campanha de vice. E assim foi feito e, não satisfeito, ainda guardou um milhão para ele no bolso”, diz Saud. Esses recursos fizeram parte de um acerto realizado entre o PT, o PMDB e a JBS durante a campanha de Dilma Rousseff à reeleição.
O homem de confiança flagrado.
A relação entre Joesley e Temer era intermediada pelo deputado federal afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), destacado pelo próprio presidente para cuidar dos assuntos de interesse da JBS com o governo. Joesley e Rocha Loures acertaram então uma propina astronômica, que poderia chegar a 600 milhões de reais, caso o ex-parlamentar ajudasse a destravar um negócio bilionário no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O órgão regulador da concorrência de mercado está analisando a disputa entre uma termelétrica de propriedade de Joesley e a Petrobras, que discordam quanto ao preço do gás natural estipulado pela estatal. A companhia propôs pagar uma mesada semanal no valor de 500 000 reais. Uma das parcelas, entregue em dinheiro vivo, foi registrada em vídeo pela Polícia Federal.
Dinheiro para o marqueteiro presidencial.
Pouco antes de assumir a faixa presidencial, durante o processo de impeachment, Temer solicitou a Joesley que bancasse 300 000 reais em despesas com o marqueteiro de confiança do presidente Elsinho Mouco, para fazer frente às críticas feitas contra o peemedebista na Internet. O dinheiro, mais uma vez, foi entregue em mãos ao aliado de Temer na casa do próprio Joesley. O presidente também é acusado por delatores de ter pedido para a JBS arcar com um mensalinho de 100 000 reais ao ex-ministro Wagner Rossi, após a sua saída da pasta da Agricultura, em 2011, quando VEJA revelou negócios escusos com um lobista. Rossi, amigo de longa data do presidente, foi o responsável por apresentar Temer a Joesley.
Temer também é apontado como o responsável por administrar repasses de caixa dois para candidatos do PMDB. Nas eleições de 2010, a pedido do presidente, a JBS deu 3 milhões de reais para a empresa Pública Comunicação, de Elsinho Mouco, e 240 000 reais à Ilha Produções, pertencente a Paulo Luciano Tenuto Rossi, o “Palu”, filho de Wagner Rossi. Em 2014, Joesley diz que, a pedido de Temer, deu 3 milhões de reais em caixa dois para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo. Dois anos depois, o presidente ainda negociou com a JBS o repasse de 3 milhões de reais em espécie para o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Lobby eficiente.
Em depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República, Saud revelou como Temer agia em favor do grupo de Joesley. Em 2015, a fabricante de celulose Eldorado começou a construir um terminal de cargas no Porto de Santos, no litoral paulista. Após um mês, a obra foi embargada pela Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), responsável pela administração do terminal. Saud conta que visitou Temer em Brasília e pediu a sua intervenção. O então vice-presidente disse que ajudaria. Uma semana depois, a Codesp liberou a continuidade do empreendimento. Nesse caso, não há relato de pagamentos de propinas.
Vazamento lucrativo.
Joesley ainda acusa Temer de vazar informações privilegiadas. Na conversa gravada no início de março, o presidente antecipou ao empresário, que também é dono do banco Original, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de reduzir a taxa básica de juros, a Selic, em um ponto percentual. Com esse tipo de informação, Joesley poderia realizar operações vantajosas no mercado financeiro.